E, mais uma vez, num espaço de poucos minutos, ela repetiu a pergunta sem se dar conta que a mesma, fora respondida na primeira e segunda vez. A resposta, essa que soou como badalada seguidamente alta? Não lembrava mais. Por onde teria escapado? Será que se perdeu naquele pensamento novo que pra todos parece cansativo e chato? As pessoas perdem a paciência tão rápido ultimamente. Ah! Lembrei o que eu queria perguntar! Mas, que dia é hoje mesmo? Por que estou neste carro? Eu conheço essas pessoas, que bom. Devem me levar pra casa. Sim, é isso. Estamos voltando da festa na casa do meu filho. Eu me despedi dele? Não. Acho que não. Não sei... não lembro. Ah! Lembrei o que eu queria perguntar! E eu, jantei? Tinha comida lá? Pra onde estão me levando? Poxa, não presenteei ninguém. Vou chegar e ligar pra me despedir com calma. Hein?! Já perguntei o que? Não entendi. Às vezes não consigo acompanhar o ritmo das pessoas... até as pernas reclamam. Eu, calada? Nada... Ah! Lembrei o que eu queria perguntar! O que? Do que estão rindo? A essa altura as pessoas em volta se olhavam e riam num jogo de aparente compreensão, mas total descontrole e embaraço. Ai, como é bom estar em casa. E o meu filho? Me despedi dele? Será que ele vai ficar triste comigo? (Deita para dormir) Poxa, não dei presente pra ninguém. Eu tranquei a porta? (Levanta da cama devagar e caminha no escuro até a sala) Trancada!
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Noite Feliz
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Leve
Entorpece
breve
Quem bebe
E não esquece.
Qual prece,
Repete
Segue... segue.
Leve segue
o sonhar
De quem vem pra beira
do mar.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Rádio MEC
gabrielabuarque.podomatic.com
- 11/11/2009 -
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Manifesto *
Semana passada me fizeram uma pergunta sobre os espaços do Rio de Janeiro para novos compositores. Na tentativa de fugir do padrão de resposta “só reclama e não faz nada para mudar” - que vem se multiplicando nos depoimentos de meus colegas de trabalho - comecei a enumerar alguns locais que nos são mais acessíveis. Sem qualquer espanto do entrevistador, depois de três referências, não me recordava de mais nenhum.
Raras e preciosas iniciativas como a da ARPUB (Associação das Rádios Públicas do Brasil) devem ser louvadas. A promoção de seu I Festival de Música levou às Rádios MEC e Nacional composições inéditas da nova geração na tentativa de revigorar a canção brasileira que, a esta altura, até ameaça de extinção sofrera.
Fico pensando o que seria dos consagrados nomes da nossa música não fossem os veículos de massa da época para divulgar seus trabalhos e incentivá-los através de grandes festivais, das rádios e outras mídias. Interesses políticos à parte, tais manifestações alavancaram fulanos como Chico, Caetano, Gil, Elis, Nara e tantos desconhecidos até então. Sobreviveriam os mesmos nos dias de hoje?
O cenário atual, cuja a quantidade de informação ultrapassa a capacidade mínima de absorção e entendimento, vem transformando artistas e suas mais admiráveis peculiaridades em produtos descartáveis e obsoletos a cada segundo que passa. O artista que, há alguns anos, lotava um teatro, por exemplo, atualmente busca soluções de marketing para atrair o público. Nunca foi tão importante a presença de convidados “especiais” e depoimentos de terceiros para agregar valor à sua imagem e, por conseguinte, ao seu cd.
É, no mínimo, paradoxal que, diante de tamanha riqueza, não haja interesse público em divulgar e preservar este material. As salas de concerto do “Patrimônio Cultural e Imaterial do Brasil” são as choperias cariocas, aonde, eu lhes asseguro, a última coisa que se deseja é ouvir música. É lamentável que parta de nós a defesa e propagação da música popular brasileira.
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Conto de Encanto
Teu sono me leve
Que breve te encontro
Num sonho e conto
Da gaivota de branco
Em voo manso
Pelo céu azul, reinando
Se apaixona por um canto
De pássaro distante
E desce à terra
Pra ver quem era
Essa voz de primavera
Que, de tão delicada,
Fez-se ouvir no mais longe nada
Pousa bela e na espera
Dorme embalada por aquela,
Que singela, ressoava na lembrança
Eis que, de repente
Melodia se faz presente
E a desperta num rompante
Era o pássaro cantante
Acompanhara com sua música
O voo da mais bela musa
Apaixonantes asas dançantes
Ela mesma, a gaivota
Amante.
(em fevereiro de 2009)
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Caiana
A claridade do dia esgarçava as cortinas, tocando delicadamente meus olhos. O espreguiçar demorado de braços e pernas desvelava um desejo oculto de estender o tempo por minutos, horas - pausas inteiras sem ponteiros. Despertaria num rompante, não fosse a noite anterior e o pontear das melodias que teimavam em ressoar nos meus sonhos.
As tranças de mãos, chitas e sandálias desenham o círculo espelhado no céu. O cortejo segue entre bois, carimbós, cocos e tambores - danças e signos pra Lua. De certo a caiana contribuiu para um estado mais leve de adoração, quase flutuante eu diria. Era um lugar simples, uma praça central e sua igreja. E um festejo pouco comum pros dias de hoje.
Despertei ouvindo o canto de um galo. O espanto não foi maior porque, tempos depois, apesar de me situar na parte central do saudoso Estado da Guanabara, algo mais inusitado aconteceu. Ao longe, porém igualmente perceptível, um homem grita: “Olha o leeeeeeeite!” Levantei da cama e corri pra janela. Queria ver se era verdade. Mais ainda, procurava pela garrafa de vidro, cheinha de leite, com a vaquinha vermelha na frente, que enfeitava a nossa porta antigamente.
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
A primeira
Oh, manhã de sol
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Leia e ouça
E você? O que está ouvindo ultimamente?
Deixe-me saber...
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Caminho ao Revés *
No véu que esconde seu olhar
A imagem refletida se perdeu
Junto com ela, a desbotar,
Meu cais...
Sonho que o tempo, em si, refaz
Anseio que o receio atroz desfez
Em ais... Não volta a ser!
O céu que havia nesse olhar
Traçava a direção, luzia o breu
Ando sem rumo a procurar
Nem sei...
Se a cada passo avanço mais
Ou traço meu caminho ao revés
Pro fim... de achar você.
* música composta em agosto de 2008.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Por detrás do olhar
Onde estará a verdade?
Como isso tudo aconteceu?
Se não lembro dos detalhes, desconfio.
Enquanto vivo, descomunico
O que sinto - meu boicote.
Você me pergunta então:
- O que viu no meu olhar?
- Seu olhar? Ah, sim... o olhar.
Meu olhar se inibe com seu olhar, como se olhasse com seus olhos tristes. E outro olhar observa a cena de fora com olhos de quem proíbe.
As palavras construídas soam como mentiras, na mesma proporção da dúvida, minha.
Falo, mas nem eu mesma acredito.
Ouça-me, ouça com meus ouvidos! De repente, assim, entenda o que venho dizer. Ou acredite sem pestanejar.
- É isso! Está me ouvindo?!
Eu vi quando olhou pra ela com o olhar que nunca me viu. Mas meu olhar já olhava o dela antes disso existir. Por isso, não acho que olho pra ela pra lhe provocar, mas porque sinto prazer no olhar.
Meu olhar olhou o dela, o dela olhou o meu. Seu olhar como era? Já me envergonho de ver.
Sob os olhos dela que desejos hão de ter? Não sei. Fiquei cega olhando o outro olhar que nem era o seu.
Tempo
Será agora o momento?
Em quanto tempo?
Poesia é vento.
Enquanto penso, não escrevo
E a poesia é
Vento
Lendo, bebo.
Sendo, vejo.
Escrevo, duvido
Escrevo.
É seca a terra
E deito nela
À espera,
À espreita.
Lenta faz-se a colheita.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Luis Barcellos
O bandolinista gaúcho deixou todos de queixo caído ao executar com sensibilidade e virtuosismo um repertório impecável ao lado de figuras já consagradas no cenário da música instrumental brasileira: Yamandu Costa, Hamilton de Holanda , Rogério Caetano, Nicolas Krassik, Henrique Cazes, Eduardo Neves e Marco Pereira.
Acompanhado por um time de primeira: Vitor Gonçalves (piano e acordeon), Nando Duarte (violão de 7 cordas), Guto Wirti (contrabaixo), Marcos Tadeu dos Santos e Tiago da Serrinha (percussão).
A emoção falou mais alto com o duo de bandolins - Luis Barcellos e Hamilton de Holanda - interpretando "Vibrações", uma linda homenagem a Jacob do Bandolim . No fim do recital, músicos e convidados retornam ao palco: violões, bandolins, cavaquinho, violino, acordeon, baixo e percussão, para uma partida de mestres, resultado: 1X0 de Pixinguinha numa comunhão de melodia e harmonia nunca antes vista.
Luis Barcellos, nosso Luisinho, de apenas 22 anos, presenteou-nos com um espetáculo único, que, sem dúvida, ficará guardado na mente de todos que estiveram lá.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
A quatro mãos
Aproveito pra postar um vídeo em que ela interpreta o "Monólogo das Mãos", de Ghiaroni. Vale a pena conferir!
Local: Teatro João Caetano (Praça Tiradentes, s/n. Centro)
Horário: Sexta e sábado, 20h; domingo, 18h. Até 13 de setembro
Preços Populares: de R$20 a R$40, balcão simples.
Telefone(s): 2332-9166
domingo, 30 de agosto de 2009
Diálogo de olhares (conversa paralela)
- Tudo bem. Só queria dar um oi.
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- Me sinto uma estranha neste lugar.
- Quem é você?! O que está fazendo aqui?!
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- Não posso sentir nada por você.
- Eu sei que você me ama.
- Eu te amo.
- Eu me amo mais.
- Eu me odeio por te amar (chora)!
- Tenho medo de me envolver.
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- Não repare no meu aparelho! Não repare no meu aparelho!
- Nossa, o que é isso?! Ops. Disfarça... não olha, não olha!
- Merda, ele viu!
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Nostalgia
Nesse chão que já foi tão seu
Da estação colorida
Dos confetes e purpurinas
Que cobriam o céu mais azul,
O semblante sereno
Lembrava um sonho de mentira
Criado pela alegria de te ver
Se o tempo, em ventura, parasse
E com ele a melodia da canção,
Tudo ficaria claro
Como lágrima corrida,
Agora contida,
No brilho do seu olhar.
(agosto de 2008)
quinta-feira, 2 de julho de 2009
A Dama do Flamengo
A demora um tanto aflita é interrompida pela imagem que vinha ao longe. Não a identifica de imediato, mas logo percebe tratar-se de uma mulher esguia atravessando a rua e caminhando em sua direção.
O chapéu azul claro de lado esconde o cabelo negro e um vestido longo preto com detalhes em vermelho faz lembrar dona Maria Padilha, mas não é o caso. Uma bolsa a tiracolo e seu andar outro apontam para uma dama antiga, daquelas raras hoje em dia.
Conforme se aproxima, esboça algumas palavras - aleatórias.
É preciso pouca distância para notar o engano: as curvas delicadas do seu corpo e a pele alva como a claridade daquela manhã, desfiguram-se rapidamente em músculos e manchas.
O que antes balbuciava, agora, defronte à menina, pergunta. Nem bem ouve o som da sua voz e logo se espanta com o único dente daquela boca. As mãos grandes seguram a bolsa e debaixo das unhas pode ver sangue. Repete então, secando a menina dos pés à cabeça: “você tem uma moeda?” De cabeça baixa procura não encarar a transfigura e, com medo, só consegue balançá-la para os lados, em sinal negativo.
Tal qual seu corpo, logo o olhar se modifica e, após encará-la novamente, diz com leve alteração na voz: “você é digna de pena!” e sai andando pela orla do Flamengo.
O barulho do ônibus que encosta na calçada desperta a menina atrasada que sobe as escadas com pressa para não perder seu compromisso.
*Foto de Elisa Gaivota.
terça-feira, 9 de junho de 2009
Outro Tempo *
Adiantaria o tempo em mim?
Desfazer mais que perfeito
Em tom imperativo: É sim!
Mas diz pra quê tentar?
E se o início fosse o meio?
Antes nunca agora sempre aqui
Da janela vivo um tempo noutro tempo que perdi
Que esse dia não é só dia, é noite e dia, não tem fim
E traz..
A paz sem cor
Que não se quer nem cantada assim.
* música composta em 02/06/2009
domingo, 31 de maio de 2009
Cotidiano sem pressa
Corpo pesa, desanda
Pára. Respira.
E volta
E meia
Que em cima não dá
Por baixo é certa
Moléstia
De vida
Obriga, carrega, castiga
Mais dia, menos dia
Me deixo,
Sem nome
Sobre nome
Codi nome
Me vejo,
Sem saltos
Sob as marcas dos saltos
Cotidianos com pressa
terça-feira, 26 de maio de 2009
Retratos Urbanos
sexta-feira, 15 de maio de 2009
JR
de Terça a Domingo de 10 às 20hs ENTRADA FRANCA - até 21 de junho
terça-feira, 12 de maio de 2009
Partida
* Foto-montagem de Christiano Parentoni.
terça-feira, 5 de maio de 2009
Papel I
Embaralho os fatos que não importam neste momento... me interesso, ao contrário, pelas sensações - estas que tenho dificuldade em descrever, pois que as sinto num estado agente, provocador.
O lençol enrodilhado e sua textura outra não falam de mim como gostaria que me soubesse.
Durmo tranqüila e ainda acordo cedo depois de ferir princípios escarrados em discussões homéricas.
Volto-me à figura ausente na cena com amor e culpa. Os olhos da culpa vêm de mim mesma e deles tenho medo. A minha liberdade é paga por ele, o medo de ser genuína a falsa-imagem. E todo o passado é representação - projeto do que deveria ser meu 'eu'. O que veio antes, o ovo ou a galinha? Criatura e criador se confundem e tudo me leva a pensar que ambos representam um mesmo papel.
* Colar 2, acrílica/tela de Isabela do Lago inspirada em Jóia Laura (uma ex-prostituta, ex-amante de um rico coronel paraense )
Papel II
* Guia e Lua, foto de Fabio Issao
quinta-feira, 16 de abril de 2009
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Um ano depois
Respiração pulsante, curiosa de nomes, de texturas
E o andar caminha cambaleante com a ponta dos pés
Calcanhares perdidos no escuro da sala clara
E cheia de pés, mãos
E olhos e corpos
Em silêncio movem-se os pensamentos
Não tão lentos quanto os movimentos.
Madeira fria lisa, base cercada de branco duro claro
Ao redor de muitos outros olhos atados, calados.
domingo, 12 de abril de 2009
Fuga
Nem viro que é pra não me ver
Saio cedo, corro - envelheço.
Envelhece o tempo que não o meu,
Retardam as horas do não vir.
Esqueço os dias, palavras, vazios
Esqueço essas linhas...
Finjo não escrever.
(em janeiro de 2008)
quinta-feira, 26 de março de 2009
...
Deve ser como que
Desistir de você
Sem saber o porquê.
E esse “e” que ressoa
Não é rima boa
Mas mágoa que ecoa,
Escoa, escapa.
Só fica a rima,
Essa que não rima com o clima,
E desfaz sina, maldita
Em poesia fria, bonita.
terça-feira, 24 de março de 2009
O Começo
*foto da máquina de escrever de C.L.
terça-feira, 17 de março de 2009
Frida Khalo
Revolução impressa, sofrimento pintado e alegria vivida ao lado de sua arte. Ela nunca esteve só, visto que o pensamento ocupa espaços e a criatividade põe em xeque a solidão – não querendo substituí-la de maneira alguma, mas exaltá-la!
A força é recortada pela leveza e a morte nunca foi tão colorida. Estrangeira pele vermelha e verde com cheiro apimentado das cordas a soar no quintal florido.
Frida Khalo exprime o que há de mais profundo no sentir – o viver. Ao mesmo tempo em que explora o surrealismo com pinceladas factuais de abismos infindos. Bebe o calor de sua terra, representando na arte a beleza cruel de sua vida.
Texturas quebradiças envolvem-na como um manto de sentidos... cheiros, sabores, toques – essências de Frida.