terça-feira, 23 de março de 2010

Palavra-Espaço-Palavra

O canto do vento na fresta da janela parecia anunciar o estrondo da porta descuidada do vizinho. Como os primeiros clarões num céu enegrecido, antecipando o fim do mor-março. Qualquer brisa a esta altura é bem-vinda. E quando acompanhada por pingos espaçados dão origem à progressão: quanto maior a velocidade, mais pesados eles ficam. Por resultado temos um dilúvio-alívio.



Mais um dia se desprende do tempo e nada acontece. Da parede escorre, em texturas e cores, a umidade. A tevê ligada na sala conversa com o silêncio e me impede de dormir. A noite atormenta mais que o dia. E o escuro do quarto é pintado por meus devaneios – só eles se movimentam. Um corpo respira na cama.



Espaço-Palavra-Tempo-Pingo-Vento-Palavra-Espaço-Pingo-Pingo-Tempo-Dia-Espaço-Noite-Nada-Palavra-Espaço-Palavra