A claridade do dia esgarçava as cortinas, tocando delicadamente meus olhos. O espreguiçar demorado de braços e pernas desvelava um desejo oculto de estender o tempo por minutos, horas - pausas inteiras sem ponteiros. Despertaria num rompante, não fosse a noite anterior e o pontear das melodias que teimavam em ressoar nos meus sonhos.
As tranças de mãos, chitas e sandálias desenham o círculo espelhado no céu. O cortejo segue entre bois, carimbós, cocos e tambores - danças e signos pra Lua. De certo a caiana contribuiu para um estado mais leve de adoração, quase flutuante eu diria. Era um lugar simples, uma praça central e sua igreja. E um festejo pouco comum pros dias de hoje.
Despertei ouvindo o canto de um galo. O espanto não foi maior porque, tempos depois, apesar de me situar na parte central do saudoso Estado da Guanabara, algo mais inusitado aconteceu. Ao longe, porém igualmente perceptível, um homem grita: “Olha o leeeeeeeite!” Levantei da cama e corri pra janela. Queria ver se era verdade. Mais ainda, procurava pela garrafa de vidro, cheinha de leite, com a vaquinha vermelha na frente, que enfeitava a nossa porta antigamente.