quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

"Eu sou só, eu só, eu só, eu"

“Mas na voz que canta tudo ainda arde

Tudo é perda, tudo quer buscar. Cadê?” Caetano Veloso


Soberana e intocável

Ela vigia a cidade e seus amores

Desenha a roda e não dança

Embala os cantadores

Em silêncio

Luz fria e branca

Canta

Canta a voz que tudo cala

Escurece os olhares

Reflete o brilho na asa

E cega a si mesma

Adormece no vazio

Voz de faca

Despedaça na partida

Arrependida.

Plano B: Aluarte

Pula comigo?
Mulher que vira homem
Lua que se esconde atrás da serra
De pedras que escoam a chuva
Toda tarde arde... a fome
O que se quer é
Dançar em cima da mesa
Entre taças de vinho
Cheiro de flor e tri beira
Adotar um filho por um dia
Sentar na janela
Andar a cavalo
Pegar gata branca no muro da igreja
Besouro, sapo, barato total
Nau dos loucos e santos
Com Jesus cantando as meninas
E chocolate rodando na pista
Pouso de João, Maria e Ana
Alfaiate de cartola e bicicleta
Papai Noel de charrete com Bituca
Na vitrola do baiano ouvir Marisa
Me avisa se alguém chegar

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Medo

Tenho medo da morte

Do silêncio que fica

Do lugar que desabita

Agora sua presença


Tenho medo das lembranças

Da carta amarelescida

De me perder ao lembrar

E nunca mais voltar


Tenho medo da vida

De suas escolhas e promessas

Do sim sem medida

E do que seria


Tenho medo de você

Do que não vê

Do pensamento por trás

De dizer


Tenho pena de mim.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

domingo, 9 de outubro de 2011

...



São os dias e seus céus - grandiosos azuis em silêncio - que me despertam. A tarde, discreta nuance, chega sem avisar e é na sua despedida que me aperta a saudade. Calo diante do breu das noites - esquinas enluaradas de mistério.




segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A Falta

“Por mais que se movimentasse, gestos cotidianos (...) dentro dele uma coisa permanecia imóvel. Como se seu corpo fosse apenas a moldura do desenho de um rosto apoiado sobre uma das mãos, olhos fixos na distância.” Caio Fernando de Abreu

E foi assim, durante semanas manteve a moldura intocável e, invisível, seguia pelas calçadas sem que notassem sua ausência...

Fechados ou abertos, os olhos projetavam a janela do apartamento. Do outro lado do vidro, mais ao fundo, as nebulosas montanhas de expectativas envolviam os telhados (inúmeros) da cidade baixa. Um muro separava o vão dos prédios num verde musgo enferrujado. Estava preso do lado de dentro do vidro, protegido do vento cortante capaz de congelar seus dedos do pé. Andava pela sala – poderia descrever cada detalhe deste ou de outro cômodo. Era pra onde ele ia desde que voltara.

Seu corpo dava sinais, embora, assim como os outros, não notasse. A boca seca falava ao vazio do estômago, acompanhado apenas de uma dor ansiosa. Se alimentava do enjôo matinal e, a esta altura, sua pele, cada vez mais alva, fervia. O vômito expurgava o nada de dentro dele. A carcaça não mais levantava da cama – imóvel sob o peso da doença.

Pela manhã emendava o sono no sonho de revê-la e assim passava os dias, as horas. Precisaria morrer para voltar a viver como outrora, quando não a conhecia.

sábado, 24 de setembro de 2011

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Aro


As horas não mais me pertencem. Elas passam por mim, lambem meu rosto gritando à minha inércia. Daqui só vejo uma imagem – sombras de imagens são imaginação de um tempo dentro desse que criei. Entrelaço o fio da vida a um emaranhado de sonhos. Às vezes encontro a saída e noutras, outras, novas, mais vidas. Seus olhos, duas rodas que cercaram meu corpo e nunca mais me libertei. Os círculos engolidores de estórias. Mastigaram, um a um, os números dos meus dias. Uma, duas... três voltas na chave e nem mais uma dúvida. Nem mais uma dívida. Ou dádiva. Agora sou apenas eu. Eu e minha bicicleta (ainda na caixa).