terça-feira, 23 de março de 2010

Palavra-Espaço-Palavra

O canto do vento na fresta da janela parecia anunciar o estrondo da porta descuidada do vizinho. Como os primeiros clarões num céu enegrecido, antecipando o fim do mor-março. Qualquer brisa a esta altura é bem-vinda. E quando acompanhada por pingos espaçados dão origem à progressão: quanto maior a velocidade, mais pesados eles ficam. Por resultado temos um dilúvio-alívio.



Mais um dia se desprende do tempo e nada acontece. Da parede escorre, em texturas e cores, a umidade. A tevê ligada na sala conversa com o silêncio e me impede de dormir. A noite atormenta mais que o dia. E o escuro do quarto é pintado por meus devaneios – só eles se movimentam. Um corpo respira na cama.



Espaço-Palavra-Tempo-Pingo-Vento-Palavra-Espaço-Pingo-Pingo-Tempo-Dia-Espaço-Noite-Nada-Palavra-Espaço-Palavra



11 comentários:

  1. Pude sentir os pingos (espaços-tempo-palavras...) compassados dentro de mim...

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  2. Gabi,



    Nem a tempestade para purgar a atmosfera...





    Beijos.

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  3. O tempo parece desaparecer lá fora com a tempestade. No entanto, o tédio da noite enlouquece o narrador de tormentos silenciosos. Duas imagens, um conto.
    Maravilhoso Gabi!

    Bjs

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  4. Cara Gabi,

    Espectora Lispector
    Gabiéela!!!!!

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  5. O João tem razão! Tu incorpora.

    Devo confessar que ultimamente as noites me atormentam mais do que o dia, no entanto, não é o silêncio que apavora, e sim a necessidade de não perder tempo!

    Gabi vc faz "letra" tão bem quanto faz "música".

    T+

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  6. é.. não posso negar que amo Clarice e, de certa forma, minhas palavras surgiram depois de lê-la pela primeira vez.

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  7. O Mor-março foi fantástico.
    Que as águas de Março venham calmas e que não continuem em Abril.
    Parabéns filha.

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  8. como é bom te ler, seu texto é como uma chuva gostosa que pinga na gente e nos fertiliza (pensei agora até num poema) =)

    beijo,
    Geraldo.

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  9. Depois de passado o Mor-março São Pedro Abril as ComPortas do céu... Eis que seu belo texto parece prenúncio da triste tempestade presente...

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. Infelizmente essa ainda é a realidade da nossa cidade-lagoa. Saudades de vc, Ka.. sempre tão inteligente! Bjão

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