terça-feira, 5 de maio de 2009

Papel I

Pulsam em mim vontades irrefreáveis de sensações passadas, mas que ainda deixam na pele o gosto, o cheiro, o descompasso. É o corpo gritando, gemendo, contraindo os músculos cegos e irracionais, porém viscerais. O que fazer com isso? Rendo-me às questões, burlando meus desejos.. fujo num labirinto e a cada esquina me deparo novamente com minha natureza vazia. Ou busco no cerne o alvo dos mais profanos e repetitivos sonhos. Não me canso de imaginar.. e quando o tenho em mãos ou ao alcance delas, provoco reações, me apago de mim mesma e deixo o 'eu' bruto falar. Este não tem normas, não tem pais, nem olhos. Este foi encontrado na rua mais imunda da Lapa bebendo o resto de cachaça e pisando em falso. Falso sapato, falsas roupas - falsa imagem.
Embaralho os fatos que não importam neste momento... me interesso, ao contrário, pelas sensações - estas que tenho dificuldade em descrever, pois que as sinto num estado agente, provocador.
O lençol enrodilhado e sua textura outra não falam de mim como gostaria que me soubesse.
Durmo tranqüila e ainda acordo cedo depois de ferir princípios escarrados em discussões homéricas.
Volto-me à figura ausente na cena com amor e culpa. Os olhos da culpa vêm de mim mesma e deles tenho medo. A minha liberdade é paga por ele, o medo de ser genuína a falsa-imagem. E todo o passado é representação - projeto do que deveria ser meu 'eu'. O que veio antes, o ovo ou a galinha? Criatura e criador se confundem e tudo me leva a pensar que ambos representam um mesmo papel.

* Colar 2, acrílica/tela de Isabela do Lago inspirada em Jóia Laura (uma ex-prostituta, ex-amante de um rico coronel paraense )

8 comentários:

  1. "É o corpo gritando, gemendo, contraindo os músculos cegos e irracionais, porém viscerais"

    Esse foi o mais difícil de comentar... de todos os que fiz hoje. POr que? Ainda não sei... Talvez essa sua frase explique. Esse não foi claro, nem objetivo, nem poético, nem racional, nem nada... Esse nada é o que há de mais preciso quando não existe precisão, previsão, exatidão. Uma mistura disforme de todas as naturezas e potencialidades sensoriais e mentais. Um emaranhado agudo do que se é, e ponto, ou melhor, e reticências...

    Adoro estar aqui...

    estalo de beijo... rs

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  2. É 01:00 do dia 06/05 e finalmente abri o seu blog. O texto me lembra a imagem de uma espiral que felizmente gira para cima, alargando as possibilidades mas também aumentando o número de respostas para esses seus questionamentos, que infelizmente só você possui as respostas. sua busca não é solitária mas encontrá-las só depende de você.
    A essa hora só deu para dizer isso.
    Vou acrescentar ao estalo de beijo, mais um beijo e um desejo enorme que você se recupere.
    Mais beijos. Mamãe

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  3. AAAAAAAAAaaatchhhhhiiiimmmmMMMM!!! Obrigada, mãe! :)

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  4. gabi,
    ainda bem que sente essa pulsação irrefreável...
    Sem mais o que falar...

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  5. Todos nós sentimos um semelhante buraco no centro de nosso corpo, um buraco que nunca vai ser preenchido. Apesar de procurarmos confortá-lo buscando acalanto nos outros, o que fazemos no fim das contas é trocar vazios e solidões. Mas deixa o vazio quieto, deixa a inquietação aí, porque é dela que sai a Arte! :-)

    beijos e estalos :-P

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  6. Te amo, minha doce e querida amiga!
    Amo, amo!

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  7. Menina!
    Que susto me deste!
    Derepente achei meu autoretrato num texto tão bonito!
    Quem é você? De onde vc é?
    Querida, onde me encontraste tem mais, fique à vontade, convido-te a conhecer meu blog e contactar-me sempre que quizer. Só uma pequena correção, não é uma aquarela, é acrílicas/ tela.
    Parabéns pelas reflexões.
    Bela.

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  8. Bela, Que feliz coincidência vc me achar. Obrigada pela gentileza e fico feliz em saber que gostou do texto. Achei a pintura e sua história muito semelhantes ao que gostaria de retratar. Vou fuçar seu blog tb ;) Volte sempre, viu? bjoss

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