quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Bula

Tempo, tempo, tempo, tempo. Se não o tenho, enlouqueço a carne, alimento a alma. Se me sobra, estranho entranhas, enveneno a alma, adormeço a mente. “O que sente? Está tão fria! Não te reconheço.” Embaçado é o olhar que aponta, com a intenção do bem. O auto-julgamento é mais cruel que a sufocante ‘realidade’ benevolente, mas, ainda sim, prefiro os altos muros de isolamento, a ter que lidar com esse tipo comum de cegueira – acomete um em cada oito orifícios do corpo. Controlado pela mente enferma, o pequeno escape desenvolve grandes antolhos ao seu redor, impossibilitando qualquer comunicação saudável com o mundo exterior. Acredita-se que o processo de inflação de conceitos seja genético, podendo se agravar no decorrer da doença. Nos momentos de alucinação extrema é comum a prática de palestras para as paredes, recriação de dogmas, podendo culminar no convelhecimento alheio. Neste caso, recomenda-se o afastamento parcial ou total do paciente, com risco de contaminação por meio de osmose telepática. Pesquisas revelam que a sergueira, como é popularmente conhecida, pode durar meses, anos ou uma vida inteira. A cura depende única e exclusivamente da força centrífuga do ensivesgado.

6 comentários:

  1. Faz um tempo, tempo, tempo que não passo por aqui, mas seu blog desponta mais radiante de post em post...

    [os] beijos [estão aqui]:

    http://sergiolimanastasi.blogspot.com/

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  2. Lendo seu texto, cheguei a algumas conclusões:

    1-Quando vc escreve tento pensar que é só a Gabriela que tá ali, sem um sobrenome que assusta! Comparações com os "intelectuais" do ramo "familiar" as vezes são incógnitos a minha vontade!!!
    2-Seus textos teem musicalidade e tomam forma própria, ao fechar os olhos deixamo-nos levar, além do que as palavras ganham vida, existem sozinhas, independente do sentido!
    3-Algumas vezes ao ler perco o fôlego, é bem o que se pensa e o que nem sempre se consegue externar com clareza, parabéns, pq vc tá cada vez melhor nesse "estilo"!
    4-Ultima conclusão para não te aborreçer tanto!!! Acho que vc é meio Saramago,assim como os paragrafos dele , os seus pareçem tb não ter fim! Abraço Gabi.

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  3. Sabe aqueles dias em que nada acontece? De repente, sentar em frente ao computador parece ser a única opção. Quando começo a desenvolver uma ideia, sinto a energia fluindo novamente pelo meu corpo. O ponto final me encontra renovada em vários sentidos e seus comentários me impulsionam a começar tudo de novo! Obrigada, sempre! bjoss

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  4. Então vamos combinar de não quebrar essa corrente ;)Se cuida e bons shows! bjus tb.

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  5. Muito bom, Gabi.

    Musical, irônico, contundente. Redondinho!

    Gostei daqui. Vou passear por outras postagens.

    Bjs

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