
Semana passada me fizeram uma pergunta sobre os espaços do Rio de Janeiro para novos compositores. Na tentativa de fugir do padrão de resposta “só reclama e não faz nada para mudar” - que vem se multiplicando nos depoimentos de meus colegas de trabalho - comecei a enumerar alguns locais que nos são mais acessíveis. Sem qualquer espanto do entrevistador, depois de três referências, não me recordava de mais nenhum.
Raras e preciosas iniciativas como a da ARPUB (Associação das Rádios Públicas do Brasil) devem ser louvadas. A promoção de seu I Festival de Música levou às Rádios MEC e Nacional composições inéditas da nova geração na tentativa de revigorar a canção brasileira que, a esta altura, até ameaça de extinção sofrera.
Fico pensando o que seria dos consagrados nomes da nossa música não fossem os veículos de massa da época para divulgar seus trabalhos e incentivá-los através de grandes festivais, das rádios e outras mídias. Interesses políticos à parte, tais manifestações alavancaram fulanos como Chico, Caetano, Gil, Elis, Nara e tantos desconhecidos até então. Sobreviveriam os mesmos nos dias de hoje?
O cenário atual, cuja a quantidade de informação ultrapassa a capacidade mínima de absorção e entendimento, vem transformando artistas e suas mais admiráveis peculiaridades em produtos descartáveis e obsoletos a cada segundo que passa. O artista que, há alguns anos, lotava um teatro, por exemplo, atualmente busca soluções de marketing para atrair o público. Nunca foi tão importante a presença de convidados “especiais” e depoimentos de terceiros para agregar valor à sua imagem e, por conseguinte, ao seu cd.
É, no mínimo, paradoxal que, diante de tamanha riqueza, não haja interesse público em divulgar e preservar este material. As salas de concerto do “Patrimônio Cultural e Imaterial do Brasil” são as choperias cariocas, aonde, eu lhes asseguro, a última coisa que se deseja é ouvir música. É lamentável que parta de nós a defesa e propagação da música popular brasileira.