quinta-feira, 26 de março de 2009

...

Desprazer de querer
Deve ser como que
Desistir de você
Sem saber o porquê.

E esse “e” que ressoa
Não é rima boa
Mas mágoa que ecoa,
Escoa, escapa.

Só fica a rima,
Essa que não rima com o clima,
E desfaz sina, maldita
Em poesia fria, bonita.

terça-feira, 24 de março de 2009

O Começo

Escrevinhar sem medo de errar, ponho-me a pensar... escrevo e não paro, que distância vem e fica pra contar sobre o que não foi e poderia ter sido. Sem pensar, recomeço do instante que foi ainda pouco, antes mesmo de chegar, do momento em que lia, absorvia, sorvia as palavras abundantes – nada mais que isso mesmo – de claríssima leitura. Reproduzo aqui o sentimento intenso e incessante que me arrebatou enquanto lia e que me prende a este papel irretocável (senão inútil) e de pouco valor diante da disposição das palavras que, à medida que surgem, se fazem entender, pois elas SÃO.

*foto da máquina de escrever de C.L.
Primeiro registro do bloco de notas, inspirado na leitura de
Água Viva - Clarice Lispector.

terça-feira, 17 de março de 2009

Frida Khalo

Las dos Fridas (1939)

Sangue, tesoura, pintura, corte, amor, paixão, mulher, homem, morte. Frida me comove com sua pluralidade e gestos naturais, de uma natureza desconhecida hoje em dia, tamanho é o estranhamento criado sob nós mesmos.
Revolução impressa, sofrimento pintado e alegria vivida ao lado de sua arte. Ela nunca esteve só, visto que o pensamento ocupa espaços e a criatividade põe em xeque a solidão – não querendo substituí-la de maneira alguma, mas exaltá-la!
A força é recortada pela leveza e a morte nunca foi tão colorida. Estrangeira pele vermelha e verde com cheiro apimentado das cordas a soar no quintal florido.
Frida Khalo exprime o que há de mais profundo no sentir – o viver. Ao mesmo tempo em que explora o surrealismo com pinceladas factuais de abismos infindos. Bebe o calor de sua terra, representando na arte a beleza cruel de sua vida.
Texturas quebradiças envolvem-na como um manto de sentidos... cheiros, sabores, toques – essências de Frida.

Inspirado no filme de Julie Taymor,"Frida" (2002).

quarta-feira, 11 de março de 2009

Abuela

Silêncio da manhã
Gestos lentos
Secura dulcificada
Riqueza de palavras
Poucas

Presença etérea
Gosto de saudade
Despe a vida em porquês
Cega os dias sem respostas
Dói em mágoas
Distantes

Espelha a vaidade
Incolor
Idos longos
Logo parcos
Pinta os lábios
Inexatos

Inquieta paz
De que é certa a vez
Ensaia só por horas
O instante breve
Que se repete
E repete.

*Poema dedicado a minha avó (ler ouvindo a música)

segunda-feira, 9 de março de 2009

Pioneiras

A exposição fotográfica Pioneiras é uma homenagem à música brasileira e, claro, às mulheres. Focaliza 13 artistas de diferentes gêneros musicais que foram pioneiras em assumir o palco como meio de expressão pessoal e artística.
Pioneiras também marca o nascimento deste grupo de sete fotógrafos profissionais que se dedica a registrar e difundir imagens da música brasileira contemporânea.
Assim, além de seu site oficial, a exposição Pioneiras estará nas mídias indoor nos metrôs e ônibus da capital paulista, além dos 150 bares de São Paulo e do Rio de Janeiro que integram a rede CineBoteco. Durante um mês, a partir deste 8 de março de 2009, cerca de 2 milhões de pessoas por dia terão a companhia de Inezita Barroso, Alaíde Costa, Áurea Martins, Ademilde Fonseca, Dóris Monteiro e outras oito mulheres que, em plena atividade artística, toparam ser clicadas em ambientes extrapalco.
Atemporal, esta exposição é um convite fotográfico para curtir e descobrir as histórias dessas 13 pioneiras que, antes de tudo, escolheram a música para viver.

Confira as fotos: http://www.pioneiras.com.br/

sexta-feira, 6 de março de 2009

Medo de Amar - Vinícius de Moraes

Olhos de Elisa

Eles comunicam
Desabitam
Gritam o desejo
Com vigor
Jorram de alegria
Secam e cercam de certeza
Voltam sempre
Tornam a partir
Quietude agressiva
Rasga o imaterial
Cala os sentidos
Oferece e carece cuidado
Amparam anseios
Descartam medo
Coíbem com leveza
Amam sem pudor.


Dedicado a Elisa Gaivota
novembro de 2008

quinta-feira, 5 de março de 2009

Leiassimesmo

Por hora quem mora lá fora voltou
Simbora que agora quem chora morreu
Se meta no que lhe dá pressa e só
Vem nessa se o que lhe interessa for eu
Se livre do medo que tenha duvide
A soma de sombra são sobras de lixo
E a santa que reza não pede por isso.


em janeiro de 2008

Teu canto em mim

Voz que me cala
Vem cantar no silêncio
De minh’alma

Fala alto, grita fundo
Toma lugar no vazio.

Veste angústias,
Ecoa em precipícios,
Voa nas asas da ilusão.

Inundando de som,
As melodias transbordam
Arrancando do chão
Lenitivo precioso
E mais antigo.

É a canção que agora escorre
Pelo meu rosto.

Dedicada a Amelia Rabello
fevereiro de 2008