terça-feira, 27 de abril de 2010

Sacradança

Quase duas horas desde que soou o último acorde e cá estou eu, apenas em corpo, sem saber bem o que pensar do que pensava, o que dizer do que sentia ao notar as mesmas paisagens e pessoas, os mesmos olhares e sentidos. A música densa de Thiago Amud vinca caminhos nunca antes descritos. Por vezes a sensação é de total desconstrução dos sons e palavras usuais. Em outras, a poesia rasga a retina e ilumina uma película amudeana num tom avermelhado - virgem a olhos nus. Cada nota, um espasmo que nos salga e condena. Em oposição, conforta-nos a altura da angélica voz, mesmo que indagando sobre um possível fim. Vê-se, por certo, um começo: Sacradança.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Mãos à obra!

As palavras preenchem os espaços da tela e do meu corpo. Todas elas juntas desenham imagens fortes que aguçam ainda mais o meu olhar sobre este mundo. Escrever me faz enxergar melhor não só o que me cerca, mas, principalmente, entender os sentimentos que me movem neste exercício. O exercício do auto-conhecimento... ou será do ilusório desconhecido?

A inquietude diante do mundo e seus porquês é a energia-móvel deste ideal solitário. O que procurar? Não importa, desde que continue buscando. Pelo caminho já vi e descobri tanto quanto nunca poderia imaginar. Não ousaria duvidar de mim. O primeiro passo, mesmo tímido, desvela uma tentativa, do contrário, teria apenas negativas. Como me inspirou Millôr Fernandes: “Quem começa já fez.” Mãos à obra!



quarta-feira, 7 de abril de 2010

Acolá

O pano amarrado por suas extremidades marca um paralelo no horizonte e convida a outro universo. Com os pés, de leve, balanço no ar e dou partida a uma viagem de sensações...

A luz que chega com o fim da tarde por entre as nuvens, tinge em tons de amarelo o cenário monocromático e a ponta de cada folha de árvore. Um verde mais claro veste todo o entorno até o limite denso da mata fechada.

Com força, impulsiono meu corpo pro lado oposto - oposto e acima das mesmas nuvens que escondem o calor redondo do restante do céu. Logo que me encontro no lugar desejado, estico o pescoço e, em estado de êxtase atordoante, me vejo cega diante da explosão de um branco ensurdecedor. Saio do meu corpo sem perceber e me projeto na continuação do movimento primeiro. O reflexo de imediato ao susto é fechar os olhos. Fica mais fácil de me achar no escuro. E assim o faço, só que agora na descida. O que antes etéreo, dessa vez soma com maior peso à boca do meu estômago (não vejo a hora de concluir a trajetória errante deste arco!). Sinto a mudança de temperatura no meu rosto e depois de completamente estática, nos confins do meu corpo. Um instante de relógio, mas uma pequena eternidade em mim.


* foto de A. C. Kehl ( ackehl.multiply.com)